OIT regista queda drástica na participação dos trabalhadores no rendimento global
GENEBRA: Os trabalhadores viram sua fatia da renda global diminuir significativamente nas últimas duas décadas, aumentando a desigualdade e privando a força de trabalho combinada de trilhões, disse a ONU na quarta-feira.
A Organização Internacional do Trabalho das Nações Unidas disse que a parcela global da renda do trabalho — ou a proporção da renda total em uma economia obtida pelo trabalho — caiu 1,6 ponto percentual desde 2004.
“Embora a diminuição pareça modesta em termos de pontos percentuais, em 2024 ela representa um déficit anual na renda do trabalho de US$ 2,4 trilhões em comparação com o que os trabalhadores teriam ganho se a parcela da renda do trabalho tivesse permanecido estável desde 2004”, disse a OIT em um relatório.
O estudo destacou a pandemia de Covid-19 como um dos principais impulsionadores do declínio, com quase metade da redução na participação da renda do trabalho ocorrendo durante os anos de pandemia de 2020-2022.
A crise global exacerbou as desigualdades existentes, particularmente porque a renda do capital continuou a se concentrar cada vez mais entre os mais ricos, disse. “Os países devem tomar medidas para combater o risco de declínio da participação da renda do trabalho”, disse Celeste Drake, vice-diretora-geral da OIT, em uma declaração.
“Precisamos de políticas que promovam uma distribuição equitativa de benefícios econômicos, incluindo liberdade de associação, negociação coletiva e administração trabalhista eficaz, para alcançar um crescimento inclusivo e construir um caminho para o desenvolvimento sustentável para todos.”
Desigualdade crescente
A OIT enfatizou que os avanços tecnológicos, incluindo a automação, foram um fator-chave para os declínios na participação da renda do trabalho. “Embora essas inovações tenham impulsionado a produtividade e a produção, as evidências sugerem que os trabalhadores não estão compartilhando equitativamente os ganhos resultantes”, disse a agência trabalhista da ONU.
Ele expressou preocupação particular de que o boom da inteligência artificial arriscava aprofundar ainda mais a desigualdade. “Se os padrões históricos persistissem… os avanços recentes na IA generativa poderiam exercer mais pressão descendente sobre a parcela da renda do trabalho”, disse o relatório, enfatizando “a importância de garantir que quaisquer benefícios da IA sejam amplamente distribuídos”.
A OIT descobriu que os trabalhadores atualmente arrecadam apenas 52,3% da renda global, enquanto a renda de capital — obtida por proprietários de ativos como terras, máquinas, edifícios e patentes — responde pelo restante.
Como a renda de capital tende a se concentrar entre indivíduos mais ricos, a parcela da renda do trabalho é amplamente usada como uma medida de desigualdade. Ela também ajuda a medir o progresso em direção à meta de desenvolvimento sustentável da ONU, que visa reduzir significativamente a desigualdade entre e dentro dos países entre 2015 e 2030. “O relatório indica um progresso lento à medida que o prazo de 2030 se aproxima”, disse a OIT. O relatório também enfatizou a incidência teimosamente alta de jovens que não estão empregados, não estão na educação ou não estão em treinamento (NEET).